Powered By Blogger

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Conheça um pouco sobre o mundo do Smooth Jazz

Eduque os seus ouvidos, aprenda a ouvir o smooth jazz e evite lesoes nos canais auditivos. Bem vindo.

O smooth jazz nada mais é do que um desdobramento natural do fusion, que dominou a cena do jazz durante os anos 70. Hoje em dia, o smooth jazz ou jazz contemporâneo é um dos gêneros que mais cresce dentro do jazz. Apesar de ser odiado pelos puristas, o smooth jazz tem nomes de peso entre seus seguidores, como por exemplo, Kenny g, George Benson, Bob James, David Sanborn, Lee Ritenour e Earl Klugh, Peter White, Andrew Words, Larry Carlton, Kirk Whalum, entre outros.

Alguns “craques” do smooth jazz

Os violinistas Greg Carmichael e Nick Webb têm duas décadas de estrada e diversos CDs. Misturando elementos da música flamenca e do fusion, a dupla tem conquistado os ouvintes do smooth jazz.

A primeira parceria entre o pianista Bob James e o violonista Earl Klugh aconteceu nos anos 80. Neste novo trabalho, lançado em 92, a dupla volta com um som muito parecido com o Fourplay, incluindo a participação do baterista Harvey Mason.

O projeto criado pelo saxofonista Kirk Whalum, o trompetista Rick Braun e o guitarrista Norman Brown têm um swing que arrebata qualquer pessoa. No repertório, versões para clássicos de The Drifters, Isley Brothers e Parliament.

Pouco conhecido do público, o trompetista Chris Botti começou a aparecer durante uma tournê com o cantor Sting. De lá para cá, seis anos se passaram e Chris Botti tornou-se um dos maiores fenômenos do smooth jazz. Para muitos, ele é a versão moderna do trompetista Chet Baker.

No fim dos anos 80, o pianista George Gershwin, arranjador e pianista norte-americano criou o selo GRP, que foi casa dos principais músicos de smooth jazz durante a década de 90. Neste disco, o pianista mostra uma vertente menos smooth jazz ao interpretar clássicos de Ira e George Gershwin.

Ao lado de Kenny G, o saxofonista David Sanborn é um dos mais bem sucedidos músicos do smooth jazz. Apesar de dizer que não é um músico deste movimento, Sanborn tem seu lugar entre os grandes do gênero.

Durante a década de 90 o grupo formado por Bob James, Nathan East, Lee Ritenour e Harvey Mason , ou simplesmente “Four Play” foi o principal expoente do smooth jazz. No seu primeiro disco, o grupo mostra o que quatro craques podem fazer juntos.
A tão esperada colaboração entre o guitarrista George Benson e o cantor Al Jarreau aconteceu finalmente em 2005. Aqui, os dois craques do smooth jazz mostram porque são respeitados até mesmo por ouvintes do jazz tradicional.

Pode parecer exagero, mas o saxofonista Grover Washington Jr. pode ser considerado o pai do smooth jazz. É claro que Washington Jr. não sabia, no fim dos anos 80, que ele estava tocando smooth jazz, mas estava. No disco Winelight, considerado essencial para entender a transição entre o fusion e o smooth, Grover mostra porque foi um dos mais influentes músicos de sua geração.

Amado e odiado. Esses são os sentimentos mais comuns quando se fala em Kenny G. Para os puristas ele é uma farsa, mas para quem é ouvinte de smooth jazz, Kenny G é um rei. Discussões a parte, mas no disco Live, que lançou o saxofonista ao estrelato, você poderá tirar as suas conclusões. Confirá sucessos como "Songbird" e "Silhouette".

Atualmente, o trompetista Rick Braun é uma das figuras mais importantes do smooth jazz. Com um som que mistura pop, funk e acid jazz, o músico é figura fácil nas principais listas de CDs mais vendidos de smooth jazz.

O saxofonista´Paul - Shilts' Weimar  é uma das figuras mais atuantes do smooth jazz. Seu currículo tem participações que vão desde Nancy Wilson e Mel Tormeem até Jamiroquai e Brand New Heavies. Além disso, é o fundador do grupo Down to the Bone, um dos expoentes da fusão smooth e acid jazz. No disco “See what happens”, você vai entender porque é tão bom ter a mente aberta para poder aproveitar um disco como este.

Considerado um dos responsáveis pelo nascimento do smooth jazz, o grupo norte-americano Spyro Gyra tem quase três décadas de carreiras e vários discos lançados. No disco “Morning dance”, você encontrará um dos principais trabalhos do grupo, considerado por muitos como o primeiro disco de smooth jazz lançado no mercado.

É muito fácil encontrar no mercado discos em homenagem a Tom Jobim, mas a escolha do repertório, os arranjos e os intérpretes fazem toda a diferença. Arranjado pelo guitarrista Lee Ritenour, o disco traz clássicos como "Águas de Março", "Dindi" e "Garota de Ipanema" interpretados por Oleta Adams, Dave Grusin, Herbie Hancock, entre outros.

O disco duplo “Casino Lights 99” pode ser usado como uma introdução ao smooth jazz. Gravado ao vivo, o ouvinte tem a oportunidade de conhecer de perto craques como Bob James, Kirk Whalum, Larry Carlton, Boney James, Fourplay, entre outros.

Aniceto Mateus Sabune
823843897

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO EM INDIVÍDUOS PORTADORES DE HIV/SIDA

1. Introdução

Este singelo trabalho surge no âmbito de exame de frequência da cadeira de Psicologia de Aconselhamento e subordina-se ao tema “processo de aconselhamento psicológico em indivíduos portadores de HIV/SIDA”. Para a sua elaboração recorreu-se à material bibliográfico, artigos científicos inseridos em revistas electrónicos e sessões práticas de aconselhamento assistidas no Hospital Geral de Mavalane – Cidade de Maputo.
O aconselhamento psicológico, por ser uma prática que oferece as condições necessárias para a interacção entre as subjectividades, ou seja, a disponibilidade mútua de trocar conhecimentos e sentimentos, permite a superação da situação de conflito. Tendo em consideração que a vida humana implica relações intersubjectivas no seu quotidiano, quando se trata de indivíduos portadores de HIV/SIDA é preciso estar-se atento para situações conflituosas, nem sempre explícitas, que podem dificultar a acção preventiva ou curativa. Acolher o saber e o sentir do paciente portador do HIV/SIDA, por meio de uma escuta activa, é a condição básica para um atendimento de qualidade. Por isso, a prática do aconselhamento psicológico, nesses casos, dá oportunidade para a retomada da integralidade da pessoa que busca os serviços de saúde, associando complementarmente o ver e tocar com o ouvir e sentir.  
A escolha deste tema advem do facto de actualmente as práticas médicas, nas nossas unidades sanitárias, estarem completamente viradas à doença, particularmente no atendimento dos indivíduos portadores de HIV/SIDA, sem no entanto, se procurar compreender a pessoa doente, como forma de se pressupor que a sua cura ou prevenção, passam necessariamente pela compreensão do paciente como um todo. Com a elaboração deste trabalho, espera-se que se compreenda a necessidade de se introduzir e/ou melhorar serviços de aconselhamento nas unidades sanitárias, com vista a tornar mais completa a qualidade de atendimento para pacientes portadores de HIV/SIDA. Contudo, o trabalho está estruturado, para além da presente introdução, nos seguintes termos: conceitos de aconselhamento e aconselhamento psicológico; processo de aconselhamento psicológico; aconselhamento em indivíduos portadores de HIV/SIDA; tipos de aconselhamento; objectivos do aconselhamento; por quem é feito o aconselhamento; local de realização do aconselhamento; procedimentos gerais do aconselhamento; descrição dos casos observados e a conclusão que culminará com as considerações finais.


2. Conceitos de Aconselhamento e Aconselhamento Psicologico
2. 1. Aconselhamento
O aconselhamento pode ser definido como um processo interactivo de aprendizagem baseada em contrato entre o conselheiro e o cliente, quer se trate de indivíduos, famílias, grupos ou instituições, que aborda de uma forma holística, questões sociais, culturais, econômicos ou emocionais (Associação Europeia para o Aconselhamento, 1996) citada por (Trindade & Teixeira 2000). 
Segundo o Ministério da Saúde do Brasil (1998), aconselhamento é um processo de escuta activa, individualizado e centrado no cliente que pressupõe a capacidade de estabelecer uma relação de confiança entre os interlocutores, visando ao resgate dos recursos internos do cliente para que ele mesmo tenha possibilidade de reconhecer-se como sujeito de sua própria saúde e transformação.

2.2. Aconselhamento psicológico
Para Trindade & Teixeira (2000), aconselhamento psicológico é uma relação de ajuda que visa facilitar uma adaptação mais satisfatória do sujeito à situação em que se encontra e optimizar os seus recursos pessoais em termos de auto-conhecimento, autonomia na tomada de decisões, confronto com crises pessoais, auto-ajuda e a melhoria das relações interpessoais. A finalidade principal é promover o bem-estar psicológico e a autonomia pessoal no confronto com as dificuldades e os problemas quotidianos.

Segundo a Associação Europeia para o Aconselhamento (1996), o aconselhamento psicológico pode ser baseado na resolução de problemas específicos; na tomada de deciões e lidar com crises; melhoria de relacionamentos; questões de desenvolvimento e promoção da consciência pessoal, trabalhando com sentimentos, percepções e conflitos internos e externos. De uma forma geral, o objectivo do aconselhamento, segundo esta associação, é proporcionar aos indivíduos oportunidades de trabalhar de maneira auto-definida, para viver de forma mais satisfatória e com recursos suficientes como indivíduo e como membro de uma comunidade mais ampla.
O aconselhamento psicológico, conforme refere Bond (1995) citado por Trindade & Teixeira (2000), é diferente de psicoterapia em alguns aspectos específicos, tais como: carácter situacional centrado na resolução de problemas do sujeito; focalização no presente; duração mais curta; mais orientado para a acção do que para a reflexão; predominantemente mais centrado na prevenção do que no tratamento e a tarefa essencial do psicólogo neste processo, é facilitar a mudança de comportamento e ajudar a mantê-la.

4. Processo de aconselhamento psicológico
O processo de aconselhamento psicológico em indivíduos portadores de HIV/SIDA, também envolve a construção duma aliança (rapport) com o indivíduo, na qual quem promove o aconselhamento disponibiliza tempo e liberdade para que o paciente explore os seus pensamentos e sentimentos, numa atmosfera de confiança, respeito e neutralidade. Para atingir este objectivo, o conselheiro utiliza competências básicas de aconselhamento como a escuta activa, a empatia e a reflexão, tentando compreender o paciente e a situação em que se encontra. O processo centra-se na compreensão que o sujeito tem da situação em que se encontra, as escolhas a fazer e decisões a tomar sustentando-se nos seus próprios insights (Trindade & Teixeira, 2000).

5. Aconselhamento em indivíduos portadores de HIV/SIDA
De acordo com o Módulo 3 de aconselhamento, o aconselhamento em HIV/SIDA tem a finalidade de: dar apoio psicológico às pessoas cujas vidas estão a ser afectadas pelo HIV; prevenir a infecção pelo HIV e a sua transmissão a outras pessoas; estimular o diagnóstico de parceiros sexuais; referir, quando necessário, para outros serviços de saúde especializados, independentemente do resultado do teste. Essas finalidades são obtidas através de: oferecer aos jovens informação sobre o HIV/SIDA (formas de transmissão, prevenção, testes); ajudar as pessoas infectadas, as suas famílias e os amigo a lidar com as possíveis reacções emocionais ao HIV/SIDA (raiva, medo, negação); discutir as possibilidades de acção adaptadas às necessidades e às circunstâncias do jovem; encorajar mudanças necessárias para a prevenção ou controle da infecção (através do sexo protegido).                                           
O aconselhamento em HIV/SIDA é para pessoas, casais, famílias e grupos. É especificamente destinado a: pessoas a serem testadas ao HIV (pré e pós-teste), independentemente da sua seropositividade; pessoas com HIV/SIDA e parceiro/as; pessoas com dificuldades de conseguir emprego, habitação, finanças em consequência da infecção pelo HIV; pessoas que procuram ajuda por causa de um comportamento passado ou presente de maior vulnerabilidade à infecção.

Segundo o Ministério da Saúde do Brasil (1998), no âmbito do HIV/SIDA, o processo de aconselhamento psicológico, contém três componentes essenciais:
  • apoio emocional;
  • apoio educativo, que trata das trocas de informações sobre HIV/SIDA, suas formas de transmissão, prevenção e tratamento;
  • avaliação de riscos, que propicia a reflexão sobre valores, atitudes e condutas, incluindo o planeamento de estratégias de redução de risco.
Esses três componentes nem sempre são atingidos num único momento ou encontro e, de certa forma, podem ser trabalhados tanto em grupo como individualmente. Na abordagem colectiva, as questões comuns expressas pelos participantes devem nortear o conteúdo a ser abordado. Nesse sentido, a identificação da demanda do grupo é fundamental.

No grupo, as pessoas têm a oportunidade de redimensionar suas dificuldades ao compartilhar dúvidas, sentimentos, conhecimentos etc. Em algumas circunstâncias, essa abordagem pode provocar alívio do stress emocional vivido pelos pacientes. A dinâmica grupal também pode ajudar o indivíduo a perceber sua própria demanda, a reconhecer o que sabe e sente, estimulando sua participação nos atendimentos individuais subseqüentes. Os grupos formados na sala de espera podem ser um exemplo dessa abordagem, além de optimizarem o tempo que o usuário passa no serviço de saúde. Deste modo, é importante, entretanto, que o profissional de saúde ou o psicólogo esteja atento para perceber os limites que separam as questões que devem ser abordadas no espaço grupal daquelas pertinentes ao atendimento individual (Ministério da Saúde - Brasil, 1998).
É importante destacar que, devidi à singularidade de vida de cada paciente, situações íntimas, como a avaliação do próprio risco e adopção de práticas mais seguras, são melhor trabalhadas num atendimento personalizado e individual. A identificação das barreiras que dificultam as práticas preventivas e os subsídios para definição de mensagens compatíveis com o paciente dependem da qualidade da relação construída entre os interlocutores durante o aconselhamento individual (Ministério da Saúde - Brasil, 1998).

6. Tipos de aconselhamento para casos de HIV/SIDA

De acordo com o Módulo 3 de aconselhamento, os tipos de aconselhamento que estão ligados aos casos de HIV/SIDA são: aconselhamento de crise; aconselhamento para resolução de problema; aconselhamento para tomada de decisão.

 6.1. Aconselhamento de crise
Costuma ser o mais usado devido à ameaça que o HIV/SIDA representa para a sobrevivência e dado o estigma social envolvido.         Uma crise emocional existe quando o indivíduo se sente: intensamente ameaçado; completamente apanhado de surpresa; emocionalmente perturbado e com a consequente perda de controlo; emocionalmente paralisado porque não vislumbra nenhuma solução: todos os esforços para resolver a crise parecem sem esperança, ou parecem ser tão dolorosos quanto à própria ameaça.
                                        
6.2. Aconselhamento para resolução de problemas
Ajuda a planificar a prevenção da transmissão, os métodos de suportar as manifestações da doença e o cuidado médico. O aconselhamento de resolução de conflitos: apoia-se no  suporte emocional e na empatia; entender a natureza do problema; pensar no impacto do problema na sua vida quotidiana; adquirir ou fortalecer habilidades pessoais para lidar com a crise; mudar o comportamento para proteger-se a si próprio e às outras pessoas.
                                                            
6.3. Aconselhamento para tomada de decisão
Ajuda a pessoa a concentrar-se em decisões perturbadoras mas necessárias. A tomada de decisão pode incluir pensar sobre:
• Quem deverá ser comunicado da situação? Como? Quando?
• Quem vai poder oferecer apoio emocional? E os cuidados físicos (no caso do SIDA)?
• No caso do SIDA, quem cuidará das crianças?
• Que mudança pode ser feita na dieta ou no estilo de vida para manter a saúde?                                                         

7. Objectivos do aconselhamento em casos de HIV/SIDA
De acordo com o Ministério da Saúde do Brasil (1998), no contexto dos pacientes portadores de HIV/SIDA, o aconselhamento psicológico tem por objectivos promover: a redução do nível de stress; uma reflexão que possibilite a percepção dos próprios riscos e a adoção de práticas mais seguras; a adesão ao tratamento; a comunicação e o tratamento de parceiros sexuais e de parceiros de uso de drogas injectáveis; disponibilizar ajuda para dar resposta às necessidades psicológicas dos sujeitos doentes; ajudar a tomar decisões informadas, no quadro das circunstâncias concretas de doença em que se encontra; e promoverr a autonomia, contribuindo para o desenvolvimento pessoal e orientar o paciente, se necessário, para outros apoios especializados

Para casos de portadores de HIV/SIDA, o aconselhamento destina-se: às pessoas com HIV/SIDA, seus parceiros sexuais e de uso de drogas injectáveis; às pessoas que desejam fazer o teste anti-HIV infectadas ou não; e às pessoas que buscam ajuda devido a prováveis situações de risco.

8. Por quem é feito o aconselhamento para indivíduos portadores de HIV/SIDA
Segundo Trindade & Teixeira (2000), o aconselhamento pode ser feito por profissionais habilitados em HIV/SIDA, como profissionais da área da saúde: psicólogos, médicos, enfermeiros, assistentes sociais, técnicos de service; profissionais da área de educação (professores, pedagogos, pesquisadores); grupos comunitários e religiosos (activistas, membros das associações, instituições organizadas para a prevenção do HIV/SIDA).

Todavia, é importante que os conselheiros tenham conhecimentos atualizados sobre HIV/SIDA e, em especial, disponibilidade para: reconhecer suas próprias limitações e potencialidades; valorizar o que o paciente sabe, pensa e sente; perceber as necessidades do paciente e dar respostas a estas e, por último, respeitar a singularidade do paciente. Essas disponibilidades facilitam a construção de um vínculo de confiança, essencial para que o aconselhamento se desenvolva com sucesso. No entanto, segundo Trindade & Teixeira (2000), todos os profissionais da equipe de saúde deveriam estar aptos a desenvolver o aconselhamento. Pelas características do trabalho do médico, assim como pelo papel social que ocupa no contexto da atenção à saúde, a realização do aconselhamento durante a consulta médica é fundamental.

9. Local de realização do aconselhamento
Para indivíduos portadores de HIV/SIDA, o aconselhamento deve ser realizado em  hospitais; centros de tratamento das DTS; centros de testagem e aconselhamento psicológico; clínicas de pré e pós-Parto; clínicas de planeamento familiar; centros de doação de sangue; serviços de jovens/adolescents; centros de saúde da comunidade; escolas; igrejas; lares e quaisquer  centros de base comunitária (Trindade & Teixeira, 2000). No entanto, a prática do aconselhamento pode ocorrer em outras instituições e circunstâncias com vista à  prevenção do HIV/SIDA, em quaiquer situações em que ocorra, sendo fundamental que sejam preservados a privacidade, o sigilo e a o caráter confidencial.
A inserção do aconselhamento na rotina dos serviços de saúde implica uma revisão do tempo que os profissionais dedicam ao atendimento aos pacientes. No entanto, é difícil estabelecer um tempo padronizado de duração do aconselhamento, pois varia conforme o caso. Diante da importância epidemiológica do HIV/SIDA, é fundamental que sejam incluídos componentes de prevenção na prática assistencial. Cabe aos gerentes dos serviços de saúde o empenho em reajustar o fluxo da demanda e os recursos humanos disponíveis, de forma a garantir o tempo requerido para um atendimento de qualidade aos usuários do serviço (Trindade & Teixeira, 2000).

10. Procedimentos gerais do aconselhamento em casos de HIV/SIDA
Durante os procedimentos gerais de aconselhamento em casos de HIV/SIDA, segundo o Ministério da Saúde do Brasil (1998), caberá ao conselheiro:
  • reafirmar o carácter confidencial e o sigilo das informações prestadas;
  • identificar com clareza a demanda de indivíduos que precisam dos serviços de aconselhamento;
  • prestar apoio emocional aos pacientes; 
  • facilitar aos pacientes a expressão de sentimentos através de uma prévia e boa aliança terapêutica;
  • identificar as crenças e valores do paciente a cerca do HIV/SIDA;
  • utilizar linguagem compatível com a cultura dos pacientes;
  • trocar informações sobre HIV/SIDA, suas formas de transmissão, prevenção e tratamento, com ênfase para as situações de risco do paciente;
  • ajudar o paciente a avaliar e a perceber seus riscos de infecção pelo HIV;
  • identificar barreiras para a mudança das situações de risco;
  • contribuir para a elaboração de um plano viável de redução de riscos;
  • explicar o benefício do uso correto do preservativo;
  • avaliar e recomendar a possibilidade de outras práticas sexuais seguras;
  • ajudar o paciente a reconhecer suas responsabilidades e possibilidades de lidar com seu problema;
  • lembrar que o consumo de álcool e outras drogas, lícitas ou ilícitas, pode alterar a percepção de risco;
  • estimular a auto-estima e a auto-confiança do paciente;
  • favorecer o fim de estigmas, mitos e preconceitos relacionados com o HIV/SIDA;
  • encaminhar o paciente para outros serviços de assistência, incluindo grupos comunitários de apoio, quando necessário.

11. Descrição dos casos observados no Hospital Geral de Mavalane  

Caso A
Mãe seropositiva e que transmitiu o vírus ao bébe de 12 meses durante a amamentação. A mãe descobriu o seu estado de seropositiva durante as consultas pré-natal e, entretanto, ainda não começou com o TARV. O marido é seropositivo e faz o TARV. O casal tem outro filho de 5 anos de idade entretanto, ainda não sabem se é seropositivo ou seronegativo. A única pessoa da família que sabe do estado do casal é a irmã do marido. O casal tem medo de revelar a sua situação para não ser discriminado pela família, assim como pela sociedade.



Caso B
Senhora de 35 anos, solteira mas vive maritalmente com o marido a 14 anos e ambos têm 3 filhos, é doméstica. O filho mais novo com 9 anos de idade é seropositivo. Ela é seropositiva e começou com TARV (Tratamento Anti-Retroviral), o marido é seronegativo. A senhora tem alguma noção da diferença existente entre ter o vírus HIV e ter o SIDA. A sua maior preocupação é ver o filho a melhorar.

 

12. Aspectos positivos e negativos constatados

Durante a revelação do resultado do teste da criança do Caso A, a conselheira disse que o resultado não era muito bom deixando o paciente entender, logo a prior, que tinha dado positivo. Ela fez essa revelação sem primeiro preparar psicologicamente a paciente. Disse ainda que a criança nasceu normal e contraiu o HIV devido à amamentação, este facto fez com que a mãe se sentisse culpada apesar de ter sido aconselhada pelo médico a amamentar o seu filho até os 6 meses.
Um aspecto positivo a realçar neste caso foi o facto de a conselheira ter perguntado a mãe se ela conhecia alguma diferença entre o HIV e o SIDA. Isso ajudou a estabelecer um clima de conversa que lhe permitiu explorar os conhecimentos que a paciente possuía e desta forma poder acrescentar mais ou corrigir certos pensamentos errados que ela tinha. O aspect negativo foi o facto de o processo de aconselhamento ter sido interrompido quando um funcionário do hospital entrou para buscar um livro que estava na sala onde decorria a sessão de aconselhamento. Isso foi egativo tendo em conta que a paciente estava num momento de reflexão sobre a sua situação de vida.

Contudo, segundo Trindade & Teixeira (2000), o aconselhamento em casos de HIV/SIDA é necessário por três motivos principais: 1) existem relações significativas entre o comportamento, a saúde e a doença; 2) a mudança de comportamentos relacionados com a saúde é difícil e complexa, não sendo em geral obtida por intervenções orientadas pelo modelo biomédico, mas sim também por intervenções de carácter psicológico; e 3) é importante dar resposta às necessidades psicológicas dos utentes dos serviços de saúde pois, como se sabe, portanto, o estado de saúde ou doença dependem significativamente dos comportamentos individuais.


13. Conclusão
A construção do conhecimento científico na sociedade moderna, em especial na medicina, tem vindo a distanciar os profissionais da saúde em relação aos pacientes com capacidade de fala, visto que a interlocução passou a ter um carácter secundário. Os aparelhos tecnológicos passaram a ter prioridade em detrimento das relações interpessoais, provocando um distanciamento do sofrimento humano e verificando-se a desqualificação da pessoa doente e a valorização da doença.
Durante a realização deste trabalho constatou-se que quando as pessoas vivenciam situações de ameaça à sua integridade física ou emocional, costumam ficar fragilizadas e, às vezes, não se sentem capazes de resolver solitariamente os seus próprios conflitos. As temáticas implícitas nas questões relativas ao HIV/SIDA, tais como a sexualidade, as transgressões, as perdas e a morte, podem causar conflitos e constituir ameaça às crenças e aos valores do indivíduo. Daí concluiu-se que o aconselhamento psicológico para casos de indivíduos portadores de HIV/SIDA é fundamental pois preserva a integridade física e emocional dos pacientes. Portanto, para além das questões que dizem respeito à doença, é necessário estar-se atento ao paciente como um todo, os conflitos que ele enfrenta diante da situação que está viver pois, muitas vezes, a prevenção, a cura e os comportamentos de risco, estão directamente relacionados com os valores e crenças que os indivíduos têm sobre a doença. Para explorar-se a subjectividade do paciente, os seus conflitos, é necessário uma intervenção psicológica por via do aconselhamento.


14. Glossário
Os conceitos apresentados neste glossário, estão definidos de acordo com o significado que expressam presente trabalho.
Auto-estima: conjunto de idéias e sentimentos que possuímos a respeito do que imaginamos ser; refere-se ao que admiramos e valorizamos em nós.
Bloqueio subjectivo: resposta a vivências emocionais dolorosas, das quais a pessoa se defende, evitando lembrar (esquecendo) ou revelar a outros.
Centrado no cliente: o cliente é o centro do atendimento; o diálogo deve primar pela atenção às necessidades do cliente, consideradas a partir de sua história pessoal, seus mitos, suas crenças e seus sentimentos.
Demanda: refere-se às necessidades, às dúvidas, às preocupações, às angústias, aos medos etc, manifestos ou latentes, vivenciados durante o atendimento.
Escuta activa: postura em que a pessoa estimula e acolhe o discurso do outro, interagindo sem colocar juízos de valor.
Recursos internos: bagagem vivencial e emocional de cada indivíduo para resolver diferentes situações de vida.
Relações intersubjectivas: relações entre sujeitos singulares nas quais realizam trocas de suas vivências subjectivas.
Subjectividade: é o conjunto de características pessoais, emocionais e culturais, que permitem a identidade própria e fazem do indivíduo sujeito de suas acções.
Testagem serológica: é a verificação, por meio de uma metodologia de testes laboratoriais, da presença ou não dos anticorpos anti-HIV no sangue.
Transgressões: quebra de normas e valores de uma determinada cultura.
Vínculo: é a ligação afectiva que pode ser gerada no encontro entre duas ou mais pessoas; essa ligação só poderá acontecer se houver disponibilidade de aceitação do outro em sua diferença e singularidade.


15. Referências Bibliográficas
Ministério da Saúde. (1998). Aconselhamento em DTS, HIV e AIDS: Diretrizes e Procedimentos Básicos. 2ªed. Brasília: Pedro Chequer - Coordenação Nacional de DST e AIDS.

Módulo 3 de Aconselhamento. Disponível em: www.inde.gov.mz/docs/materiais6.pdf
Acessado em 16 de Novembro de 2010 as 16:43h.

Trindade I. & Teixeira J. A. C. (2000). Aconselhamento psicológico em contextos de saúde e doença : Intervenção privilegiada em psicologia da saúde. Análise Psicológica, 1 (XVIII), 3-14.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

USO DE TESTES NA ORIENTAÇÃO – ESTUDO DE CASO

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho - estudo de caso - objetivou compreender até que ponto o uso dos testes nos Serviços de Psicologia e Orientação Vocacional da Escola Portuguesa de Moçambique – EPM-CELP, contribui para o sucesso do processo de orientação. Trata-se de um estudo de caso efectuado no âmbito de exame de frequência da cadeira de Psicologia de Orientação Profissional, realizado nos Serviços de Psicologia e Orientação Vocacional da Escola Portuguesa de Moçambique – EPM-CELP e subordina-se ao tema uso de testes na orientação.  
O uso de instrumentos psicometricamente ajustados ao contexto em que serão utilizados é fundamental para a confiabilidade dos processos de avaliação psicológica. Em situações de orientação vocacional tal preceito tem igual importância, na medida em que a avaliação de diferentes constructos, pelo orientador, deve levar o sujeito a se conhecer melhor, proporcionando-lhe uma escolha adequada que esteja em concordância com os seus interesses vocacionais ou as actividades das diversas áreas de estudo.
Sendo os testes instrumentos importantes para qualquer processo de orientação, por fornecerem uma informação precisa sobre o sujeito a ser orientado, no que diz respeito aos seus interesses vocacionais; suas capacidades intelectuais gerais; suas aptidões mentais; seus valores e sua personalidade, o seu uso no processo de orientação como uma das etapas de avaliação torna-se imprescindível.
Contudo, o trabalho está estruturado nos seguintes termos: a presente introdução; a apresentação da instituição; o problema de pesquisa; a justificativa; os objectivos; a hipótese; a fundamentação teórica; a metodologia; a apresentação dos resultados que inclui os testes usados nos Serviços de Psicologia e Orientação Vocacional da Escola Portuguesa de Moçambique – EPM-CELP; a discussão dos resultados; a conclusão e as  referências bibliográficas.

2. APRESENTAÇÃO DA INSTITUIÇÃO
2.1. Localização
A Escola Portuguesa de Moçambique–EPM - CELP, tem instalações próprias construídas de raiz na cidade de Maputo. Situa-se no bairro Costa do Sol, junto à orla marítima e tem uma área de cerca de 27000m2 e uma parcela adjacente com 3000m2 que serve de parque de estacionamento de veículos.

2.2. Historial da instituição
A EPM-CELP, foi criada na titularidade do estado português à luz da cooperação celebrada entre Portugal e Moçambique pelo decreto-lei nº 241/99 de 25 de Junho, complementado pelo decreto-lei nº 177/2002, de 31 de Julho, é dotada de personalidade jurídica e de autonomia cultural, pedagógica, financeira e património próprio. Nesta perspectiva, no contexto da política de relações internacionais e de cooperação, a missão da EPM-CELP visa promover e difundir a língua e a cultura portuguesa, assumida como valência substantiva na implementação de uma política cultural e educativa em Moçambique tendo iniciado as suas actividades no ano 1999/2000.

7. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
7.1. Conceitos-chave
7.1.1. Teste
De acordo com Gordon & Kalha (2000), teste é  um conjunto de tarefas ou questões com o objectivo de elucidar tipos particulares de comportamento quando apresentados em condições padronizadas. Segundo Cronbach (1970) citado por Gordon & Kalha (2000), teste é um procedimento sistemático de observação e descrição de uma ou mais características de uma pessoa, com a ajuda de uma escala métrica ou de um sistema de categorias.

7.1.2. Teste psicológico
Um teste psicologico é um procedimento sistematico (caracterizam-se por planeamento, uniformidade e meticulosidade) para a obtencao de amostras de comportamento (subconjuntos de um todo muito maior) relevantes para o funcionamento cognitivo ou afectivo e para a avaliacao dessas amostras de acordo com certos padroes (Urbina, 2007).

7.1.3. Orientação
A Orientação é um processo de natureza progressiva, no qual se auxilia um indivíduo a entender, aceitar e usar as suas habilidades, atitudes, interesses e padrões de atitude, face às suas aspirações (Gordon & Kalha, 2000).

7.1.4. Orientação Vocacional (OV)
A Orientação Vocacional é um processo que ajuda os indivíduos a escolher uma profissão, prepara-os para tal profissão, seu ingresso e desenvolvimento (Gordon & Kalha, 2000).
Segundo Noronha, Freitas & Ottati (2003), a orientação vocacional é um processo que ajuda os indivíduos a escolher uma profissão, prepara-os para tal profissão, seu ingresso e desenvolvimento. A satisfação vocacional requer que os interesses, aptidões, atitudes e personalidade de uma pessoa sejam adequados ao seu trabalho.

7.2. Uso de testes psicológicos na orientação
Os testes na orientação normalmente são usados para  recolher informações sobre os indivíduos e usar estas informações para avaliá-los. O orientador e/ou aconselhador usará a avaliação de dados de testes e outras fontes porém ele deve, entretanto, ter um bom entendimento do campo geral da medição (Gordon & Kalha, 2000). No entanto, antes de proceder à discussão detalhada de como os testes são usados na orientação, é necessário referir a sua pertinência nesse processo e, de acordo com Gordon & Kalha (2000), pode-se destacar:
Primeiro: supõe-se que os testes sejam os mais objectivos e precisos na medida em que a partir dos resultados dos testes, pode-se verificar, rejeitar ou modificar as convicções previamente existentes sobre um indivíduo.
Segundo: os testes fornecem novas informações sobre a qualidade do futuro desempenho do indivíduo em situações novas ou informações difíceis de serem extraídas pelo indivíduo a partir de uma experiência prévia. Nesta perspectiva, a maior razão para o uso dos testes psicológicos na orientação é que as opções surgem para o indivíduo e os estudantes devem tomar as suas próprias decisões e conviver com elas e, deste modo, espera-se que os testes possam conter informações úteis que podem ser usadas na sua tomada de decisões.
7.3. Programa escolar de testes
Como parte da aplicação geral de testes na orientação, o orientador deve organizar um programa de testes na escola. Um programa de testes deve ser bem organizado, deve estar relacionado com o uso e deve haver integração e continuidade. Relação com o uso significa que os testes usados devem ser aplicáveis ou relevantes ao problema. Integração refere-se a em que medida existe uma relação lógica e clara entre os diferentes instrumentos de teste usados e entre os testes gradualmente aplicados. Deste modo, um programa de testes deve ter continuidade por muitos anos, pois isto ajuda a seguir o crescimento individual de um estudante de ano para ano e ajuda também o orientador a conhecer melhor os seus instrumentos - testes (Gordon & Kalha, 2000).

7.4. Funções de um programa de testes

Segundo Gordon & Kalha (2000), se os testes estão para ser introduzidos, é essencial que todo o pessoal do ensino saiba dizer como devem ser introduzidos e o que devem conter. Os testes devem estar integrados no sistema escolar como um todo. Só poderão funcionar se forem vistos como uma ajuda para atingir os objectivos gerais da escola. Organizado desta forma, como refere Gordon & Kalha (2000), um programa de testes pode servir às seguintes funções:

  • ajudar a melhorar a qualidade e a natureza do processo de ensino-aprendizagem, provendo os professores de feedback sobre a eficiência das suas técnicas;
  • fazer a orientação vocacional mais efectivas;
  • agir como estímulo para uma definição dos objectivos educacionais na escola;
  • ajudar os estudantes a entenderem-se a si próprios, as suas necessidades, interesses, habilidades, limitações, preconceitos e potencial de desenvolvimento.

7.5. Tipos de teste que podem ser usados num programa de testes
Qualquer programa de testes numa escola provavelmente consistirá em dois tipos de teste: os que todos os estudantes se submetem de tempo em tempo e os usados somente quando necessário, na ajuda de um determinado estudante (Gordon & Kalha, 2000). Nesta perspectiva, um programa geral mínimo de testes deve consistir em: medidas de capacidades de realização em assuntos específicos; testes de habilidades gerais; medidas dos ajustes pessoal e social; e medidas de interesses vocacionais.

Testes de realização: medem o conhecimento, habilidades e práticas que resultam da instrução dada pela escola. Geralmente representam uma avaliação definitiva do estatuto do indivíduo ao completar o treinamento, por exemplo, exames para mudança de nível.
Testes de habilidades gerais: medem o desenvolvimento intelectual padrão e a aptidão, ou potencial, do indivíduo. Esses testes são úteis como ferramentas de diagnóstico, por exemplo, testes de inteligência e aptidão.
Testes de personalidade: medem características tais como o ajuste emocional, relações inter-pessoais, motivação e atitudes, por exemplo, Inventário de Personalidades Multifásicas de Minnesota (MMPI).
Inventários de interesses: medem o que o indivíduo gosta ou não gosta. Na Orientação, são muito importantes as informações sobre os interesses do indivíduo voltados para a vocação e a são muito importantes carreira profissional. Estas informações devem ajudar o aconselhador a orientar um indivíduo a seguir o seu interesse, por exemplo, Levantamento de Interesses Gerais de Kuder.

8. METODOLOGIA
Pelo carácter descritivo do tipo de pesquisa em questão neste singelo trabalho - estudo de caso - foi usada uma metodologia qualitativa que, de acordo com Gil (2008), possui um forte cunho descritivo que conduz à um profundo alcance analítico sobre o caso em estudo que, para este trabalho, é uma instituição - Serviços de Psicologia e Orientação Vocacional da EPM-CELP. Para tal, fez-se uma revisão bibliográfica a partir de livros e artigos científicos inseridos em revistas electrónicas, pois ela tem uma importância consagrada e disponibiliza um perfil de conhecimento actualizado.
Em seguida, em consequência do tipo de pesquisa em questão neste trabalho, optou-se por se usar a análise documental e entrevista como instrumentos de colheita de dados. Assim, efectuou-se a recolha de dados através de um trabalho de campo usando-se os instrumentos acima referidos. Portanto, o critério para a análise e discussão dos resultados foi meramente de carácter descritivo.

8.1. Procedimentos
A recolha de dados através da análise documental foi efectuada sob consentimento e autorização da psicóloga que trabalha no serviço de orientação ora em questão, drª. Alexandra Melo, que disponibilizou material escrito sobre o caso em estudo que serviu como fonte de dados.
A entrevista foi efectuada com a própria drª. Alexandra Melo, psicóloga e orientadora que trabalha nos serviços de Psicologia e Orientação ora em questão. Foi uma entrevista estruturada, cujo guião tinha 13 questões concebidas na perspectiva de responder os objectivos pré-estabelecidos. Veja o guião de entrevista em anexo.

9. APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS
9.1. Serviços de Psicologia e Orientação Vocacional da EPM-CELP
De acordo com os dados recolhidos através dos instrumentos acima referidos, a EPM- CELP realiza serviços de orientação desde o início das suas actividades no ano 1999/2000, quando as suas instalações situavam-se no recinto da Feira Internacional de Maputo (FACIM). Quando passou às novas instalações, a EPM- CELP continuou com os serviços de orientação, tendo-os melhorando cada vez mais.

Os serviços de apoio educativo abrangem todos os ciclos, desde o pré-escolar até o ensino secundário. Em particular os serviços de orientação destinam-se aos alunos do 9º ano do 3ºciclo do ensino básico, de forma a fornecer aos alunos uma ajuda e orientação na escolha da área de estudo a partir do 10º ano.

Em termos de organização e funcionamento do serviço de orientação para os níveis pré escolar e 1º ciclo (1ª a 4ª classes), a EPM-CELP sensibiliza os professores a estar atentos aos problemas de aprendizagem. A sensibilização incide sobre as áreas: cognitiva, desenvolvimento, comportamental, aptidões, prevenção e avaliação. Na área cognitiva são explorados aspectos como atenção, memória e linguagem. De entre estes o aspecto atenção é o mais frequente. Para a exploração da área cognitiva são aplicados os seguintes testes: WPPSI, WISC, Columbia, Raven, My e D2.

No que diz respeito à linguagem explora-se o vocabulário, a compreensão da leitura (dislexia) e a expressão escrita (disortografia). Quanto as aptidões para aprendizagem, para o nível pré-escolar explora-se a iniciação da leitura e escrita; para o 1º ciclo explora-se o desenvolvimento psicomotor, a organização espacial, a linguagem, percepção visual e auditiva. Para a avaliação desta área é aplicado o teste de Maturidade pré-escolar e BAPAE e, por último, para a avaliação da área de prevenção é aplicado o teste PIAAR.

No 2º (5ª a 6ª classes) e 3º ciclos (7ª a 9ª classes), incluindo o ensino secundário, a EPM-CELP nos seus serviços de orientação desenvolve trabalhos em aspectos relacionados a atenção; organização do estudo (responsabilidade pessoal, organização do tempo e espaço, conteúdos de estudo, método de estudo); orientação vocacional (no 9ºano); comportamento (hiperactividade, oposição); emoção, aspectos sócio-afectivos, auto-estima, familiares; sexualidade (prevenção de comportamentos de risco) e toxico-dependência. Porém, é importante salientar que a orientação vocacional propriamente dita é efectuada apenas com os alunos do  3º ciclo, especificamente os do 9ºano.

10. Testes usados nos Serviços de Psicologia e Orientação Vocacional da EPM-CELP
Os Serviços de Psicologia e Orientação Vocacional da Escola Portuguesa de Moçambique - EPM-CELP, que normalmente efectua orientação a partir do 9ºano de escolaridade, usa vários testes como uma das etapas de avaliação durante o processo de orientação vocacional, dos quais os mais usados estão subdivididos em três áreas principais: área de interesses; área da personalidade e área das aptidões mentais e raciocínio lógico.

Sendo os testes instrumentos com carácter preditivo e diagnóstico, é importante deixar claro que os testes não definem certamente a profissão exacta, mas sim ajudam a clarificar as suas idéias sobre os seus interesses; as suas aptidões, o seu raciocínio, seus valores e a sua personalidade. Deste modo, os resultados obtidos nos testes de orientação vocacional oferecem um melhor conhecimento de si próprio e ajudam aos alunos a tomarem a decisão mais acertada em relação aos seus interesses vocacionais.

10.1. Inventário de interesses vocacionais
Para a avaliação dos interesses vocacionais (ciências exatas, biológicas e/ou ciências sociais) dos alunos, cujo perfil de interesse constitui as áreas que motivam os alunos, os Serviços de Psicologia e Orientação Vocacional da EPM-CELP usa os seguintes testes: KUDER, IPP, IIP e COPS.
10.1.1. Principais vantagens dos inventários de interesses
·         Identifica os interesses vocacionais ao longo do 3º ciclo de escolaridade;
·         Fornece análises e gráficos de interesses; e
·         Podem se aplicar individual ou colectivamente.

10.1.2. KUDER - Registo de Preferências Vocacionais
Avalia os interesses vocacionais ou profissionais dos alunos a partir das actividades preferidas ou rejeitadas em campos de preferências. Inclui ainda uma escala de verificação que funciona como escala de validação. Permite elaborar um perfil de interesses, em que os valores considerados elevados tomam um carácter indicativo do tipo de campo que o sujeito prefere. Aplica-se à adolescentes que estejam no 9ºano de escolaridade, num tempo de +/- 45min e pode-se aplicar de forma individual ou colectiva.

10.1.3. IPP - Inventário de Interesses e Preferências Profissionais
É um inventário que avalia os alunos segundo seus interesses vocacionais (ciências exatas, biológicas e/ou ciências sociais), tendo em consideração as tarefas que integram em cada uma dessas preferências. A partir dos resultados obtidos elabora-se o perfil do aluno, especificando as suas preferências vocacionais ou por actividades em cada área de estudo. A análise do perfil deverá ter em consideração a existência ou não de discrepâncias entre as pontuações em áreas de estudo e as respectivas actividades. Aplica-se à alunos do 9ºano de escolaridade, num tempo de +/- 45min e aplica-se de forma colectiva.

10.2. Testes de personalidade
Com vista a se efectuar uma orientação que esteja compatível com a personalidade do aluno, os Serviços de Psicologia e Orientação Vocacional da EPM-CELP usa os seguintes testes para avaliar a personalidade dos alunos: COM-73 e 16PF.

10.2.1. 16PF - Questionário Factorial de Personalidade
É um questionário constituído por 185 itens que avaliam 16 traços primários da personalidade. A combinação destes traços permite a obtenção de resultados para 5 factores de segunda ordem, referidos como: extroversão, ansiedade, dureza, independência e auto-controlo. Uma análise mais detalhada do perfil permite obter informações quanto ao potencial de liderança, à criatividade, à empatia, às competências sociais, à auto-estima e à capacidade de adaptação e ajustamento do sujeito. Normalmente, os Serviços de Psicologia e Orientação Vocacional da EPM-CELP aplica à alunos do 9ºano de escolaridade, num tempo de +/- 45min e aplica-se de forma colectiva.

10.3. Teste de Aptidões Mentais Primárias e de Raciocínio Lógico
Para a avaliação da aptidões mentais primárias e do raciocínio lógico nos Serviços de Psicologia e Orientação Vocacional da EPM-CELP, como uma das etapas do processo de orientação, usa-se o PMA que é um teste que avalia as aptidões mentais primárias e o D48 que avalia as capacidades intelectuais gerais dos alunos.

10.3.1. Testes de Aptidões Mentais Primárias - PMA
O PMA é um teste que os Serviços de Psicologia e Orientação Vocacional da EPM-CELP usa para avaliar as aptidões mentais primárias dos alunos do 9ºano de escolaridade e constitui uma bateria de aplicação individual ou colectiva. Tem como finalidade avaliar o perfil das aptidões básicas dos alunos em 5 factores: compreensão verbal, concepção espacial, raciocínio lógico, cálculo numérico e fluência verbal.
Compreensão verbal: capacidade para captar ideias expressas através da linguagem escrita ou oral. É indispensável em actividades em que predomina o uso da linguagem.
Concepção espacial: capacidade para imaginar e reconhecer estruturas espaciais e compará-las entre si, ou aptidão para reconhecer objectos que mudam de posição no espaço mantendo a sua estrutura interna.
Raciocínio lógico: é a capacidade para seguir um processo descobrindo a relação causal que existe entre diversos factores, ou inferir do particular ao geral e extrair das premissas a conclusão lógica.
Cálculo numérico: capacidade para manejar números e para resolver rapidamente problemas quantitativos simples.
Fluência verbal: capacidade para exprimir com facilidade as próprias ideias de modo convincente.

10.3.2. D48 - Teste de Dominós
É um teste de inteligência geral que constitui uma excelente medida de factor "g". Os Serviços de Psicologia e Orientação Vocacional da EPM-CELP usa este teste para avaliar as capacidades intelectual dos alunos do 9ºano de escolaridade, para conceptualizar e aplicar o raciocínio sistemático à novas situações. Aplica-se durante 25min de forma colectiva.

Tabela de sessões de orientção vocacional na prática – e as respectivas sessões onde se usam os testes, durante o processo de orientação vocacional na EPM-CELP. O processos é constituido por 6 sessões de 60 minutos cada.


1ª Sessão
-Questionário e Entrevista inicial de Orientação Vocacional
- Avaliação da Maturidade Vocacional


A primeira sessão consiste numa entrevista e na realização de um questionário que vai permitir recolher informação de forma fidedigna acerca dos preferências e interesses dos alunos.

2ª Sessão

- Avaliação do

Nível de Inteligência Geral D48
Avaliação dos interesses (KUDER, IPP e IIP).



  





A segunda sessão consiste na aplicação de teste psicotécnicos.

3ª Sessão
- Teste das Aptidões Mentais Primárias (PMA).





    

Testes psicotécnicos que permitem avaliar as aptidões verbais, numéricas, abstractas, mecânicas e espaciais dos alunos.

4ª Sessão
- Inventário de  Interesses (COPS).

 Testes de personalidade (16PF e COM-73).









Testes psicotécnicos  para confirmar interesses e avaliar o modo de funcionamento emocional, ou seja a personalidade do sujeito - aluno.

5ª Sessão
-Investigação e exploração de preferências vocacionais.
 - Investigação e exploração de cursos de carácter geral ou profissional .






Capacitar o aluno para uma correcta ulitização e pesquisa de informação oficial e actualizada de cursos e profissões

6ª Sessão

- Entrevista final

- Entrevista com os pais (opcional)

- Entrega de Relatório Final


  



A ultima sessão consiste na entrega de um relatório, onde são discutidos os resultados obtidos nos testes.




11. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Os instrumentos de avaliação de interesses oferecem oportunidades de o indivíduo estudar e relacionar os resultados do teste com informações ocupacionais; e também oferecem uma expansão nas opções de carreiras, já que muitos inventários já trazem não só ocupações que necessitam formação universitária, mas também opções de carreiras de nível técnico (Anastasi; Urbina, 2000; Cronbach, 1996) citados por (Ottati & Noronha, 2003).
Anastasi & Urbina (2000) citadas por Ottati & Noronha (2003) enfatizam que os instrumentos de avaliação de interesses possuem ainda uma outra característica, muito peculiar, que diz respeito à facilidade que as pessoas têm em responder às questões. Neste sentido, Anastasi e Urbina (2000) citadas por Ottati & Noronha (2003), afirmam ainda que as atitudes, as aptidões e os interesses representam um importante aspecto da personalidade de uma pessoa. Assim, pode ser de fundamental importância avaliar esses aspectos dos indivíduos envolvidos na orientação. Essa seria uma das formas de alcançar alguns dos objectivos propostos da orientação.
Sbardelini (2000) citado por Ottati & Noronha (2003), considera que o uso de testes na orientação constitui uma etapa importante no processo de avaliação para a orientação, pois fornecerem uma informação precisa sobre o sujeito a ser orientado no que diz rspeito aos seus interesses vocacionais; suas capacidades intelectuais gerais; suas aptidões mentais; seus valores e sua personalidade. Ou seja, é um meio que oferece possibilidades de apreender a subjectividade do sujeito diante das condições objectivas que lhe são apresentadas. Nesse sentido, o teste visa enriquecer as informações já levantadas por outros meios, atribuindo um significado mais preciso, compreensivo e dinâmico da personalidade do sujeito e dos mecanismos que interferem no processo de orientação vocacional.
O uso dos testes na orientação não deve ser a única fonte de informação sobre o indivíduo, já que os programas de orientação envolvem outros métodos, como dinâmicas de grupo e entrevista psicológica, para a recolha de informação do sujeito. Souza (1995) citada por Ottati & Noronha (2003), afirma que os testes têm um papel instrumental na orientação, ou seja, não substituem a função do psicólogo, nem dos outros métodos de avaliação, mas sim vêm a ser mais uma das etapas de avaliação. Entretanto, os testes vêm para oferecer mais informações sobre os indivíduos e, o processo de orientação não se inicia a partir dos testes.
Ao utilizar os testes, o orientador deve atentar para não fazer uso de forma fechada e estática, mas sim dar importância a todas as dimensões do instrumento, incluindo as deficiências e limitações, até mesmo para saber como lidar com elas. Nesse sentido, ele deve realizar avaliações psicológicas com mais propriedade, usando diversos intrumentos para obter informações do sujeito.


12. CONCLUSÃO
Os testes psicológicos são instrumentos importantes para a prática profissional do psicólogo, auxiliando-o na realização de avaliação psicológica, no ensino e na pesquisa. Pela sua validade, precisão, padronização e normalização, são considerados instrumentos de medida que oferecem informação precisa sobre qualquer indivíduo que esteja num processo de avaliação psicológica.
Tomando-se como norte os objectivos pré-estabelecidos neste trabalho, constatou-se que num processo de orientação, o uso dos testes constitui uma das etapas importantes que serve de meio que oferece possibilidades de apreender a subjectividade do sujeito diante das condições objectivas que lhe são apresentadas.
Diante das evidências teóricas e dos resultados obtidos no presente estudo de caso, tornou-se claro que o uso de testes na orientação, precisamente, nos Serviços de Psicologia e Orientação Vocacional da Escola Portuguesa de Moçambique – EPM-CELP, é indispensável para garantir o grau de confiabilidade da informação obtida do sujeito a ser orientado, que permitirá ao mesmo tomar decisões certas e seguras sobre as suas preferências vocacionais ou seus interesses profissionais. O outro facto que ficou evidente depois deste estudo, é que o sucesso de um processo de orientção subordina-se, entre outros elementos, no uso de testes durante o processo de orientação, como uma das etapas de avaliação psicológica; ainda que tal uso dos testes não possa ser olhado como a única fonte de informação sobre o sujeito a ser orientado, na medida em que existem outros instrumentos de recolha de informação como a entrevista psicológica e as dinâmicas de grupo, igualmente importantes e indispensáveis para a avaliacção psicológica. Portanto, para uma efectiva completidão e sucesso do processo de orientação, não se deve dispensar o uso de testes, pelo seu carácter instrumental, visto que do mesmo modo que eles não podem substituir os outros métodos de avaliação, também não podem ser substituidos por tais métodos.


13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bianchi, A. C. de M.; Alvarenga, M. & Bianchi, R. (2003). Manual de Orientação: Estágio  Supervisionado. 3ª edição. São Paulo: Pioneira Thomson Learning.

Gil, A. C. (2008). Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6ª edição. São Paulo: Atlas S.A.

Gordon, W & Kalha, U. (2000). Orientação – Módulo I. Botswana: Editores Wilma Guez e John Allen UNESCO.

Marconi, M. A. & Lakatos, E. M. (1992). Metodologia Científica. 2ª edição. São Paulo: atlas.

Noronha, A. P. P.; Freitas, F. A. & Ottati, F. (2003). Análise de instrumentos de avaliação de interesses profissionais. Psicologia: Teoria e Pesquisa, vol.19 no.3. Brasília. Disponível em: http://www.pciconcursos.com.br/provas/seap. Acessado em: 17 de Novembro de 2010. 

Ottati, F. Noronha, A. P. P. (2003). Parâmetros psicométricos de instrumentos de interesse profissional. Disponível em: http://www.pciconcursos.com.br/provas/seap. Acessado em: 17 de Novembro de 2010.
Urbina, S. (2007). Fundamentos da Testagem Psicológica. Porto Alegre: Artmed.