1. Introdução
Este singelo trabalho surge no âmbito de exame de frequência da cadeira de Psicologia de Aconselhamento e subordina-se ao tema “processo de aconselhamento psicológico em indivíduos portadores de HIV/SIDA”. Para a sua elaboração recorreu-se à material bibliográfico, artigos científicos inseridos em revistas electrónicos e sessões práticas de aconselhamento assistidas no Hospital Geral de Mavalane – Cidade de Maputo.
O aconselhamento psicológico, por ser uma prática que oferece as condições necessárias para a interacção entre as subjectividades, ou seja, a disponibilidade mútua de trocar conhecimentos e sentimentos, permite a superação da situação de conflito. Tendo em consideração que a vida humana implica relações intersubjectivas no seu quotidiano, quando se trata de indivíduos portadores de HIV/SIDA é preciso estar-se atento para situações conflituosas, nem sempre explícitas, que podem dificultar a acção preventiva ou curativa. Acolher o saber e o sentir do paciente portador do HIV/SIDA, por meio de uma escuta activa, é a condição básica para um atendimento de qualidade. Por isso, a prática do aconselhamento psicológico, nesses casos, dá oportunidade para a retomada da integralidade da pessoa que busca os serviços de saúde, associando complementarmente o ver e tocar com o ouvir e sentir.
A escolha deste tema advem do facto de actualmente as práticas médicas, nas nossas unidades sanitárias, estarem completamente viradas à doença, particularmente no atendimento dos indivíduos portadores de HIV/SIDA, sem no entanto, se procurar compreender a pessoa doente, como forma de se pressupor que a sua cura ou prevenção, passam necessariamente pela compreensão do paciente como um todo. Com a elaboração deste trabalho, espera-se que se compreenda a necessidade de se introduzir e/ou melhorar serviços de aconselhamento nas unidades sanitárias, com vista a tornar mais completa a qualidade de atendimento para pacientes portadores de HIV/SIDA. Contudo, o trabalho está estruturado, para além da presente introdução, nos seguintes termos: conceitos de aconselhamento e aconselhamento psicológico; processo de aconselhamento psicológico; aconselhamento em indivíduos portadores de HIV/SIDA; tipos de aconselhamento; objectivos do aconselhamento; por quem é feito o aconselhamento; local de realização do aconselhamento; procedimentos gerais do aconselhamento; descrição dos casos observados e a conclusão que culminará com as considerações finais.
2. Conceitos de Aconselhamento e Aconselhamento Psicologico
2. 1. Aconselhamento
O aconselhamento pode ser definido como um processo interactivo de aprendizagem baseada em contrato entre o conselheiro e o cliente, quer se trate de indivíduos, famílias, grupos ou instituições, que aborda de uma forma holística, questões sociais, culturais, econômicos ou emocionais (Associação Europeia para o Aconselhamento, 1996) citada por (Trindade & Teixeira 2000).
Segundo o Ministério da Saúde do Brasil (1998), aconselhamento é um processo de escuta activa, individualizado e centrado no cliente que pressupõe a capacidade de estabelecer uma relação de confiança entre os interlocutores, visando ao resgate dos recursos internos do cliente para que ele mesmo tenha possibilidade de reconhecer-se como sujeito de sua própria saúde e transformação.
2.2. Aconselhamento psicológico
Para Trindade & Teixeira (2000), aconselhamento psicológico é uma relação de ajuda que visa facilitar uma adaptação mais satisfatória do sujeito à situação em que se encontra e optimizar os seus recursos pessoais em termos de auto-conhecimento, autonomia na tomada de decisões, confronto com crises pessoais, auto-ajuda e a melhoria das relações interpessoais. A finalidade principal é promover o bem-estar psicológico e a autonomia pessoal no confronto com as dificuldades e os problemas quotidianos.
Segundo a Associação Europeia para o Aconselhamento (1996), o aconselhamento psicológico pode ser baseado na resolução de problemas específicos; na tomada de deciões e lidar com crises; melhoria de relacionamentos; questões de desenvolvimento e promoção da consciência pessoal, trabalhando com sentimentos, percepções e conflitos internos e externos. De uma forma geral, o objectivo do aconselhamento, segundo esta associação, é proporcionar aos indivíduos oportunidades de trabalhar de maneira auto-definida, para viver de forma mais satisfatória e com recursos suficientes como indivíduo e como membro de uma comunidade mais ampla.
O aconselhamento psicológico, conforme refere Bond (1995) citado por Trindade & Teixeira (2000), é diferente de psicoterapia em alguns aspectos específicos, tais como: carácter situacional centrado na resolução de problemas do sujeito; focalização no presente; duração mais curta; mais orientado para a acção do que para a reflexão; predominantemente mais centrado na prevenção do que no tratamento e a tarefa essencial do psicólogo neste processo, é facilitar a mudança de comportamento e ajudar a mantê-la.
4. Processo de aconselhamento psicológico
O processo de aconselhamento psicológico em indivíduos portadores de HIV/SIDA, também envolve a construção duma aliança (rapport) com o indivíduo, na qual quem promove o aconselhamento disponibiliza tempo e liberdade para que o paciente explore os seus pensamentos e sentimentos, numa atmosfera de confiança, respeito e neutralidade. Para atingir este objectivo, o conselheiro utiliza competências básicas de aconselhamento como a escuta activa, a empatia e a reflexão, tentando compreender o paciente e a situação em que se encontra. O processo centra-se na compreensão que o sujeito tem da situação em que se encontra, as escolhas a fazer e decisões a tomar sustentando-se nos seus próprios insights (Trindade & Teixeira, 2000).
5. Aconselhamento em indivíduos portadores de HIV/SIDA
De acordo com o Módulo 3 de aconselhamento, o aconselhamento em HIV/SIDA tem a finalidade de: dar apoio psicológico às pessoas cujas vidas estão a ser afectadas pelo HIV; prevenir a infecção pelo HIV e a sua transmissão a outras pessoas; estimular o diagnóstico de parceiros sexuais; referir, quando necessário, para outros serviços de saúde especializados, independentemente do resultado do teste. Essas finalidades são obtidas através de: oferecer aos jovens informação sobre o HIV/SIDA (formas de transmissão, prevenção, testes); ajudar as pessoas infectadas, as suas famílias e os amigo a lidar com as possíveis reacções emocionais ao HIV/SIDA (raiva, medo, negação); discutir as possibilidades de acção adaptadas às necessidades e às circunstâncias do jovem; encorajar mudanças necessárias para a prevenção ou controle da infecção (através do sexo protegido).
O aconselhamento em HIV/SIDA é para pessoas, casais, famílias e grupos. É especificamente destinado a: pessoas a serem testadas ao HIV (pré e pós-teste), independentemente da sua seropositividade; pessoas com HIV/SIDA e parceiro/as; pessoas com dificuldades de conseguir emprego, habitação, finanças em consequência da infecção pelo HIV; pessoas que procuram ajuda por causa de um comportamento passado ou presente de maior vulnerabilidade à infecção.
Segundo o Ministério da Saúde do Brasil (1998), no âmbito do HIV/SIDA, o processo de aconselhamento psicológico, contém três componentes essenciais:
- apoio emocional;
- apoio educativo, que trata das trocas de informações sobre HIV/SIDA, suas formas de transmissão, prevenção e tratamento;
- avaliação de riscos, que propicia a reflexão sobre valores, atitudes e condutas, incluindo o planeamento de estratégias de redução de risco.
Esses três componentes nem sempre são atingidos num único momento ou encontro e, de certa forma, podem ser trabalhados tanto em grupo como individualmente. Na abordagem colectiva, as questões comuns expressas pelos participantes devem nortear o conteúdo a ser abordado. Nesse sentido, a identificação da demanda do grupo é fundamental.
No grupo, as pessoas têm a oportunidade de redimensionar suas dificuldades ao compartilhar dúvidas, sentimentos, conhecimentos etc. Em algumas circunstâncias, essa abordagem pode provocar alívio do stress emocional vivido pelos pacientes. A dinâmica grupal também pode ajudar o indivíduo a perceber sua própria demanda, a reconhecer o que sabe e sente, estimulando sua participação nos atendimentos individuais subseqüentes. Os grupos formados na sala de espera podem ser um exemplo dessa abordagem, além de optimizarem o tempo que o usuário passa no serviço de saúde. Deste modo, é importante, entretanto, que o profissional de saúde ou o psicólogo esteja atento para perceber os limites que separam as questões que devem ser abordadas no espaço grupal daquelas pertinentes ao atendimento individual (Ministério da Saúde - Brasil, 1998).
É importante destacar que, devidi à singularidade de vida de cada paciente, situações íntimas, como a avaliação do próprio risco e adopção de práticas mais seguras, são melhor trabalhadas num atendimento personalizado e individual. A identificação das barreiras que dificultam as práticas preventivas e os subsídios para definição de mensagens compatíveis com o paciente dependem da qualidade da relação construída entre os interlocutores durante o aconselhamento individual (Ministério da Saúde - Brasil, 1998).
6. Tipos de aconselhamento para casos de HIV/SIDA
De acordo com o Módulo 3 de aconselhamento, os tipos de aconselhamento que estão ligados aos casos de HIV/SIDA são: aconselhamento de crise; aconselhamento para resolução de problema; aconselhamento para tomada de decisão.
6.1. Aconselhamento de crise
Costuma ser o mais usado devido à ameaça que o HIV/SIDA representa para a sobrevivência e dado o estigma social envolvido. Uma crise emocional existe quando o indivíduo se sente: intensamente ameaçado; completamente apanhado de surpresa; emocionalmente perturbado e com a consequente perda de controlo; emocionalmente paralisado porque não vislumbra nenhuma solução: todos os esforços para resolver a crise parecem sem esperança, ou parecem ser tão dolorosos quanto à própria ameaça.
6.2. Aconselhamento para resolução de problemas
Ajuda a planificar a prevenção da transmissão, os métodos de suportar as manifestações da doença e o cuidado médico. O aconselhamento de resolução de conflitos: apoia-se no suporte emocional e na empatia; entender a natureza do problema; pensar no impacto do problema na sua vida quotidiana; adquirir ou fortalecer habilidades pessoais para lidar com a crise; mudar o comportamento para proteger-se a si próprio e às outras pessoas.
6.3. Aconselhamento para tomada de decisão
Ajuda a pessoa a concentrar-se em decisões perturbadoras mas necessárias. A tomada de decisão pode incluir pensar sobre:
• Quem deverá ser comunicado da situação? Como? Quando?
• Quem vai poder oferecer apoio emocional? E os cuidados físicos (no caso do SIDA)?
• No caso do SIDA, quem cuidará das crianças?
• Que mudança pode ser feita na dieta ou no estilo de vida para manter a saúde?
7. Objectivos do aconselhamento em casos de HIV/SIDA
De acordo com o Ministério da Saúde do Brasil (1998), no contexto dos pacientes portadores de HIV/SIDA, o aconselhamento psicológico tem por objectivos promover: a redução do nível de stress; uma reflexão que possibilite a percepção dos próprios riscos e a adoção de práticas mais seguras; a adesão ao tratamento; a comunicação e o tratamento de parceiros sexuais e de parceiros de uso de drogas injectáveis; disponibilizar ajuda para dar resposta às necessidades psicológicas dos sujeitos doentes; ajudar a tomar decisões informadas, no quadro das circunstâncias concretas de doença em que se encontra; e promoverr a autonomia, contribuindo para o desenvolvimento pessoal e orientar o paciente, se necessário, para outros apoios especializados
Para casos de portadores de HIV/SIDA, o aconselhamento destina-se: às pessoas com HIV/SIDA, seus parceiros sexuais e de uso de drogas injectáveis; às pessoas que desejam fazer o teste anti-HIV infectadas ou não; e às pessoas que buscam ajuda devido a prováveis situações de risco.
8. Por quem é feito o aconselhamento para indivíduos portadores de HIV/SIDA
Segundo Trindade & Teixeira (2000), o aconselhamento pode ser feito por profissionais habilitados em HIV/SIDA, como profissionais da área da saúde: psicólogos, médicos, enfermeiros, assistentes sociais, técnicos de service; profissionais da área de educação (professores, pedagogos, pesquisadores); grupos comunitários e religiosos (activistas, membros das associações, instituições organizadas para a prevenção do HIV/SIDA).
Todavia, é importante que os conselheiros tenham conhecimentos atualizados sobre HIV/SIDA e, em especial, disponibilidade para: reconhecer suas próprias limitações e potencialidades; valorizar o que o paciente sabe, pensa e sente; perceber as necessidades do paciente e dar respostas a estas e, por último, respeitar a singularidade do paciente. Essas disponibilidades facilitam a construção de um vínculo de confiança, essencial para que o aconselhamento se desenvolva com sucesso. No entanto, segundo Trindade & Teixeira (2000), todos os profissionais da equipe de saúde deveriam estar aptos a desenvolver o aconselhamento. Pelas características do trabalho do médico, assim como pelo papel social que ocupa no contexto da atenção à saúde, a realização do aconselhamento durante a consulta médica é fundamental.
9. Local de realização do aconselhamento
Para indivíduos portadores de HIV/SIDA, o aconselhamento deve ser realizado em hospitais; centros de tratamento das DTS; centros de testagem e aconselhamento psicológico; clínicas de pré e pós-Parto; clínicas de planeamento familiar; centros de doação de sangue; serviços de jovens/adolescents; centros de saúde da comunidade; escolas; igrejas; lares e quaisquer centros de base comunitária (Trindade & Teixeira, 2000). No entanto, a prática do aconselhamento pode ocorrer em outras instituições e circunstâncias com vista à prevenção do HIV/SIDA, em quaiquer situações em que ocorra, sendo fundamental que sejam preservados a privacidade, o sigilo e a o caráter confidencial.
A inserção do aconselhamento na rotina dos serviços de saúde implica uma revisão do tempo que os profissionais dedicam ao atendimento aos pacientes. No entanto, é difícil estabelecer um tempo padronizado de duração do aconselhamento, pois varia conforme o caso. Diante da importância epidemiológica do HIV/SIDA, é fundamental que sejam incluídos componentes de prevenção na prática assistencial. Cabe aos gerentes dos serviços de saúde o empenho em reajustar o fluxo da demanda e os recursos humanos disponíveis, de forma a garantir o tempo requerido para um atendimento de qualidade aos usuários do serviço (Trindade & Teixeira, 2000).
10. Procedimentos gerais do aconselhamento em casos de HIV/SIDA
Durante os procedimentos gerais de aconselhamento em casos de HIV/SIDA, segundo o Ministério da Saúde do Brasil (1998), caberá ao conselheiro:
- reafirmar o carácter confidencial e o sigilo das informações prestadas;
- identificar com clareza a demanda de indivíduos que precisam dos serviços de aconselhamento;
- prestar apoio emocional aos pacientes;
- facilitar aos pacientes a expressão de sentimentos através de uma prévia e boa aliança terapêutica;
- identificar as crenças e valores do paciente a cerca do HIV/SIDA;
- utilizar linguagem compatível com a cultura dos pacientes;
- trocar informações sobre HIV/SIDA, suas formas de transmissão, prevenção e tratamento, com ênfase para as situações de risco do paciente;
- ajudar o paciente a avaliar e a perceber seus riscos de infecção pelo HIV;
- identificar barreiras para a mudança das situações de risco;
- contribuir para a elaboração de um plano viável de redução de riscos;
- explicar o benefício do uso correto do preservativo;
- avaliar e recomendar a possibilidade de outras práticas sexuais seguras;
- ajudar o paciente a reconhecer suas responsabilidades e possibilidades de lidar com seu problema;
- lembrar que o consumo de álcool e outras drogas, lícitas ou ilícitas, pode alterar a percepção de risco;
- estimular a auto-estima e a auto-confiança do paciente;
- favorecer o fim de estigmas, mitos e preconceitos relacionados com o HIV/SIDA;
- encaminhar o paciente para outros serviços de assistência, incluindo grupos comunitários de apoio, quando necessário.
11. Descrição dos casos observados no Hospital Geral de Mavalane
Caso A
Mãe seropositiva e que transmitiu o vírus ao bébe de 12 meses durante a amamentação. A mãe descobriu o seu estado de seropositiva durante as consultas pré-natal e, entretanto, ainda não começou com o TARV. O marido é seropositivo e faz o TARV. O casal tem outro filho de 5 anos de idade entretanto, ainda não sabem se é seropositivo ou seronegativo. A única pessoa da família que sabe do estado do casal é a irmã do marido. O casal tem medo de revelar a sua situação para não ser discriminado pela família, assim como pela sociedade.
Caso B
Senhora de 35 anos, solteira mas vive maritalmente com o marido a 14 anos e ambos têm 3 filhos, é doméstica. O filho mais novo com 9 anos de idade é seropositivo. Ela é seropositiva e começou com TARV (Tratamento Anti-Retroviral), o marido é seronegativo. A senhora tem alguma noção da diferença existente entre ter o vírus HIV e ter o SIDA. A sua maior preocupação é ver o filho a melhorar.
12. Aspectos positivos e negativos constatados
Durante a revelação do resultado do teste da criança do Caso A, a conselheira disse que o resultado não era muito bom deixando o paciente entender, logo a prior, que tinha dado positivo. Ela fez essa revelação sem primeiro preparar psicologicamente a paciente. Disse ainda que a criança nasceu normal e contraiu o HIV devido à amamentação, este facto fez com que a mãe se sentisse culpada apesar de ter sido aconselhada pelo médico a amamentar o seu filho até os 6 meses.
Um aspecto positivo a realçar neste caso foi o facto de a conselheira ter perguntado a mãe se ela conhecia alguma diferença entre o HIV e o SIDA. Isso ajudou a estabelecer um clima de conversa que lhe permitiu explorar os conhecimentos que a paciente possuía e desta forma poder acrescentar mais ou corrigir certos pensamentos errados que ela tinha. O aspect negativo foi o facto de o processo de aconselhamento ter sido interrompido quando um funcionário do hospital entrou para buscar um livro que estava na sala onde decorria a sessão de aconselhamento. Isso foi egativo tendo em conta que a paciente estava num momento de reflexão sobre a sua situação de vida.
Contudo, segundo Trindade & Teixeira (2000), o aconselhamento em casos de HIV/SIDA é necessário por três motivos principais: 1) existem relações significativas entre o comportamento, a saúde e a doença; 2) a mudança de comportamentos relacionados com a saúde é difícil e complexa, não sendo em geral obtida por intervenções orientadas pelo modelo biomédico, mas sim também por intervenções de carácter psicológico; e 3) é importante dar resposta às necessidades psicológicas dos utentes dos serviços de saúde pois, como se sabe, portanto, o estado de saúde ou doença dependem significativamente dos comportamentos individuais.
13. Conclusão
A construção do conhecimento científico na sociedade moderna, em especial na medicina, tem vindo a distanciar os profissionais da saúde em relação aos pacientes com capacidade de fala, visto que a interlocução passou a ter um carácter secundário. Os aparelhos tecnológicos passaram a ter prioridade em detrimento das relações interpessoais, provocando um distanciamento do sofrimento humano e verificando-se a desqualificação da pessoa doente e a valorização da doença.
Durante a realização deste trabalho constatou-se que quando as pessoas vivenciam situações de ameaça à sua integridade física ou emocional, costumam ficar fragilizadas e, às vezes, não se sentem capazes de resolver solitariamente os seus próprios conflitos. As temáticas implícitas nas questões relativas ao HIV/SIDA, tais como a sexualidade, as transgressões, as perdas e a morte, podem causar conflitos e constituir ameaça às crenças e aos valores do indivíduo. Daí concluiu-se que o aconselhamento psicológico para casos de indivíduos portadores de HIV/SIDA é fundamental pois preserva a integridade física e emocional dos pacientes. Portanto, para além das questões que dizem respeito à doença, é necessário estar-se atento ao paciente como um todo, os conflitos que ele enfrenta diante da situação que está viver pois, muitas vezes, a prevenção, a cura e os comportamentos de risco, estão directamente relacionados com os valores e crenças que os indivíduos têm sobre a doença. Para explorar-se a subjectividade do paciente, os seus conflitos, é necessário uma intervenção psicológica por via do aconselhamento.
14. Glossário
Os conceitos apresentados neste glossário, estão definidos de acordo com o significado que expressam presente trabalho.
Auto-estima: conjunto de idéias e sentimentos que possuímos a respeito do que imaginamos ser; refere-se ao que admiramos e valorizamos em nós.
Bloqueio subjectivo: resposta a vivências emocionais dolorosas, das quais a pessoa se defende, evitando lembrar (esquecendo) ou revelar a outros.
Centrado no cliente: o cliente é o centro do atendimento; o diálogo deve primar pela atenção às necessidades do cliente, consideradas a partir de sua história pessoal, seus mitos, suas crenças e seus sentimentos.
Demanda: refere-se às necessidades, às dúvidas, às preocupações, às angústias, aos medos etc, manifestos ou latentes, vivenciados durante o atendimento.
Escuta activa: postura em que a pessoa estimula e acolhe o discurso do outro, interagindo sem colocar juízos de valor.
Recursos internos: bagagem vivencial e emocional de cada indivíduo para resolver diferentes situações de vida.
Relações intersubjectivas: relações entre sujeitos singulares nas quais realizam trocas de suas vivências subjectivas.
Subjectividade: é o conjunto de características pessoais, emocionais e culturais, que permitem a identidade própria e fazem do indivíduo sujeito de suas acções.
Testagem serológica: é a verificação, por meio de uma metodologia de testes laboratoriais, da presença ou não dos anticorpos anti-HIV no sangue.
Transgressões: quebra de normas e valores de uma determinada cultura.
Vínculo: é a ligação afectiva que pode ser gerada no encontro entre duas ou mais pessoas; essa ligação só poderá acontecer se houver disponibilidade de aceitação do outro em sua diferença e singularidade.
15. Referências Bibliográficas
Ministério da Saúde. (1998). Aconselhamento em DTS, HIV e AIDS: Diretrizes e Procedimentos Básicos. 2ªed. Brasília: Pedro Chequer - Coordenação Nacional de DST e AIDS.
Acessado em 16 de Novembro de 2010 as 16:43h.
Trindade I. & Teixeira J. A. C. (2000). Aconselhamento psicológico em contextos de saúde e doença : Intervenção privilegiada em psicologia da saúde. Análise Psicológica, 1 (XVIII), 3-14.